Por Camila Montino | 26 de agosto de 2020

No coração de uma menina, cientistas brasileiros descobriram marcas do ataque direto do coronavírus ao músculo cardíaco das crianças. A menina de 11 anos não sofria de doença preexistente, era até então saudável, e morreu de insuficiência cardíaca um dia após ser internada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Cientistas brasileiros descobriram marcas do ataque direto do coronavírus ao músculo cardíaco (Foto: Getty Images)

Os pesquisadores esperam que a investigação abra caminho para tratar melhor o que se considera ser a forma infantil grave da Covid-19. O caso chama a atenção primeiro porque o coração e não o pulmão foi o principal alvo do Sars-CoV-2. O estudo indica ainda que o vírus sozinho pode diretamente provocar muitos dos danos que têm sido atribuídos a uma reação inflamatória.

Os resultados do estudo, que contribui para entender os efeitos da doença, são descritos em artigo publicado na revista médica The Lancet Child & Adolescent Health. A SIM-P começou a ser relatada a partir de abril deste ano por médicos da Europa e dos Estados Unidos. “A síndrome é um quadro inflamatório sistêmico grave, identificado em crianças e adolescentes, que pode atingir vários órgãos, como o trato gastrointestinal, pulmões, pele e sistema nervoso central, e provocar disfunção cardíaca em casos mais graves”, afirma Marisa Dolhnikoff, professora da FMUSP e primeira autora do trabalho.

A criança não apresentava doenças previamente existentes, e foi levada ao pronto-socorro do Instituto da Criança do HC em estado grave, apresentando desconforto respiratório, gripe, febre alta persistente e dor abdominal. “Após a entrada na UTI, o quadro evoluiu para disfunção cardíaca e choque cardiogênico em 28 horas, com necessidade de ventilação mecânica pulmonar e suporte de medicações para o sistema cardiovascular”, relata a médica Juliana Ferranti, que participou do estudo, segundo a UOL. “Foi uma evolução grave da covid-19, muito rara dentro da pediatria”. A confirmação da doença foi feita por um teste de PCR realizado após a morte da paciente.

Após a morte da menina, para avaliar as alterações teciduais e os possíveis mecanismos fisiopatológicos associados à SIM-P, foi realizada a análise microscópica de tecido coletado de vários órgãos, através da autópsia minimamente invasiva guiada por ultrassom.