Por Malu Lopes | 20 de março de 2025

A adolescência nunca foi fácil para ninguém, mas com o lançamento de “Adolescência”, a nova minissérie da Netflix, pais de todo o mundo estão sentindo um frio na espinha. Com uma trama de suspense psicológico, a série britânica virou assunto nas rodas de conversa, especialmente entre os responsáveis por filhos adolescentes. Isso porque, ao invés de abordar apenas os dilemas típicos dessa fase da vida, a produção toca em temas pesados, como bullying, masculinidade tóxica e até um assassinato cometido por um jovem de 13 anos. Mais de 24 milhões de visualizações em apenas quatro dias falam por si sobre o impacto da série, que chegou ao topo do ranking da plataforma logo após o seu lançamento.

O enredo que está mexendo com as emoções dos pais

“Adolescência” segue a história de Jamie (interpretado por Owen Cooper), um garoto de 13 anos que é acusado de matar uma colega de classe. No entanto, o que torna a trama ainda mais angustiante é que a série não foca exclusivamente no crime, mas explora seus efeitos devastadores na vida de Jamie, sua família e a sociedade. O ator Stephen Graham, que também interpreta o pai de Jamie, afirmou que a ideia da série surgiu de uma crescente inquietação sobre o número de notícias envolvendo jovens cometendo crimes com facas. “O que está acontecendo na sociedade quando um menino esfaqueia uma garota até a morte?”, questionou o criador da série, tocando em um problema atual e, infelizmente, comum na sociedade.

A produção não é baseada em fatos reais específicos, mas o roteiro se inspira em notícias sobre incidentes violentos envolvendo jovens, trazendo uma reflexão sobre os motivos que podem levar adolescentes a cometer atos tão extremos. “Adolescência” é como um convite para os pais olharem mais de perto as complexas questões que os filhos enfrentam, muitas vezes sem perceberem.

Suspense psicológico: o desconforto de assistir com os filhos

Diferente de outras produções de suspense, “Adolescência” não aposta em reviravoltas chocantes ou cenas de ação explosivas. A série se constrói através da tensão psicológica, explorando o silêncio, os pequenos gestos e os dilemas internos de seus personagens. Um episódio inteiro, por exemplo, é centrado em uma conversa entre Jamie e uma psicóloga infantil, tentando entender as razões que levaram o garoto a cometer o crime. Para os pais, assistir a essa conversa é como carregar um peso sobre os ombros por longos 52 minutos. Cada segundo se arrasta, fazendo o espectador se perguntar o que aconteceu com aquele garoto, o que poderia ter sido diferente e o que ele está tentando esconder.

A escolha de criar uma narrativa mais contemplativa, que não segue os padrões tradicionais de suspense, coloca a série em um território emocionalmente desconfortável para os pais, que provavelmente se verão refletindo sobre como poderiam ter agido para evitar que seus filhos chegassem a uma situação como essa. No fundo, o verdadeiro terror de “Adolescência” é justamente o fato de que ela nos obriga a encarar uma realidade: o que está acontecendo com os nossos filhos e o que estamos fazendo para ajudá-los a lidar com as dificuldades emocionais e sociais dessa fase?

Questões atuais que não podem ser ignoradas

“Adolescência” não se limita a mostrar os horrores de um crime cometido por um jovem. Ela também coloca em pauta questões como o impacto do bullying, a pressão das redes sociais e os conflitos gerados pela masculinidade tóxica, aspectos que, muitas vezes, ficam fora do radar dos pais até que se tornem grandes problemas. Para os pais de adolescentes, a série serve como um alerta, uma oportunidade de abrir os olhos para os problemas silenciosos e muitas vezes ignorados que afetam seus filhos.

A série também questiona o papel dos pais na vida dos filhos. Como entender as angústias de um adolescente? Como agir quando um filho começa a demonstrar comportamentos preocupantes? Como equilibrar a proteção e a liberdade necessárias para o desenvolvimento saudável? Essas perguntas são levantadas ao longo dos episódios, e a série faz um excelente trabalho ao não dar respostas fáceis, mas sim ao deixar os pais com mais questionamentos do que certezas.

O que os pais podem aprender com o final?

O episódio final de “Adolescência” é uma verdadeira descarga emocional. Diferente de muitos outros thrillers, onde o criminoso se torna o centro das atenções, a história aqui se volta para a família de Jamie. Este desfecho deixa os pais com uma sensação de impotência e preocupação, afinal, se esse tipo de situação pode acontecer com uma família qualquer, o que os impede de enfrentar algo semelhante? Não há como assistir sem pensar: “E se fosse o meu filho?”

Para os pais, “Adolescência” é um convite a olhar para dentro de casa e perguntar o que pode ser feito para prevenir que os filhos enfrentem as mesmas dificuldades retratadas na série, e como podemos apoiá-los de maneira mais eficaz.