Por Redação Pais&Filhos | 7 de novembro de 2012

Aos 13 anos, Isadora fez uma página no Facebook para falar sobre os problemas da escola em que estuda. As reclamações públicas trouxeram melhorias para os outros alunos e algumas dores de cabeça para Isadora. Aqui, a mãe, orgulhosa, conta como começou tudo isso.

A Isadora começou a página Diário de Classe, no Facebook, inspirada no blog da Martha Payne, uma menina escocesa que escrevia na internet sobre a merenda oferecida pela escola. Quem mostrou o blog pra ela foi a minha filha mais velha, Ingrid. Quando percebi que ela queria fazer algo semelhante, alertei: “não se esqueça de que estamos no Brasil e isso pode não dar resultado”.

Ela quis continuar. Isadora sempre teve acesso livre à internet. Sempre a incentivamos a usar a tecnologia e aproveitar as ferramentas para coisas boas. Assim que a página começou a repercutir, eu fiquei muito feliz e ao mesmo tempo surpresa. Não imaginava que as coisas teriam essa proporção e crescimento. Ela já apareceu em jornais internacionais como o Le Monde e o El País.

Eu fiquei preocupada com a responsabilidade que ela absorveu no processo. O assédio da mídia foi muito grande e nós explicamos que ela fez um tipo de jornalismo que acabou dando certo, mas que agora precisava dar respostas ao público por meio dos profissionais da área, tentando atender a todos. Isso tudo nunca fez parte do mundo da minha filha, mas a reação dela foi positiva.

É interessante isso. Eu não imaginava que o Diário de Classe fosse dar certo, mas sempre falei em casa que a Isadora ia acabar fazendo algo de grande proporção um dia. Ela sempre foi polêmica, questionadora, apesar da timidez.

Quando tinha 3 anos, costumava esperar o caminhão de coleta de lixo em frente de casa, com uma garrafa de água gelada. Todos da coleta já a conheciam e, no final do ano, compraram uma boneca para dar de presente pra minha filha.

Apesar de não ser ligada a coisas materiais, sempre cuidou muito bem da boneca, porque para ela tinha um valor especial. Depois do sucesso do Diário de Classe, a direção da escola veio me procurar para dizer que o que minha filha estava fazendo era um crime, e nós, pais, poderíamos até ser presos em decorrência das atitudes da Isadora. Fiz questão de deixar claro que a minha filha estava exercendo sua cidadania. Poucas mães entraram em contato comigo, penso que o motivo disso foi a campanha feita pela escola contra Isadora, dizendo que aquilo  era uma bobagem.

Eu apoio a Isadora, não apenas por ser a minha filha, mas porque a atitude dela é legítima e correta.

Quando ela foi intimada a prestar depoimento na delegacia, sobre acusações de uma professora por crimes de calúnia e difamação, eu conversei com ela e expliquei que tudo tinha um preço, uma consequência, e nós nunca sabemos do que os outros são capazes.

Disse que ela poderia ver coisas desagradáveis, como pessoas machucadas ou bandidos algemados. Foi aí que ela me perguntou: “Mas, mãe, eu sou bandida, então?” E eu a acalmei e respondi que não, que ia dar tudo certo. Lá, ela foi muito bem tratada e teve até gente querendo tirar foto. As irmãs da Isadora dizem que ela tem o nome perfeito, além de ser geminiana. “Isa” é a parte tímida e “Dora”, é a menina que escreve no Diário de Classe. Ela continua indo para a escola, normalmente, como se o problema nem fosse com ela. Essa é a Isadora.

Veja a página Diário de Classe

“Eu Isadora Faber que tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas públicas. Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.” É assim que se apresenta Isadora, na página que criou no Facebook, curtida por mais de 300 mil pessoas. Entre os temas dos posts, estão as merendas oferecidas, a frequência e a qualidade das aulas e a infraestrutura da escola.