Por Mayra Gaiato | 23 de março de 2023

O número de diagnósticos de autismo não para de crescer. Hoje, artigos científicos mostram que, em média, 1 a cada 30 crianças nascidas são autistas. Os meninos continuam sendo a maioria dos diagnósticos. O número era de 4 para 1 (4 meninos para cada menina, verificado nos estudos anteriores). Porém, os dados atuais mostram uma tendência de queda para uma relação entre gêneros de 3,55 para 1.

Autismo em meninas é diferente do autismo em meninos (Foto: iStock)

Há dúvidas sobre essa diferença entre gêneros, pois muitas vezes, meninas também estão no espectro autista e não são diagnosticadas, pois a apresentação dos comportamentos são diferentes. Um estudo publicado em 2019 na revista Molecular Autism descobriu que as mulheres com autismo são sub-representadas nas pesquisas, o que pode levar a diagnósticos imprecisos e tratamentos inadequados.

As meninas, diferente dos meninos, por questões hormonais e também dos próprios genes, faz com que elas sejam mais comunicativas, tentam imitar e participar mais das interações sociais. Porém, a dificuldade em habilidades sociais faz com que elas sofram consequências que podem ser graves.

Para o enfrentamento das questões sociais complexas, é comum as meninas usarem o “masking” ou mascaramento, para camuflar sintomas e se encaixar em grupos. Elas percebem o ambiente social e começam a fazer tudo que os outros querem que ela faça, entendem que é assim que elas serão mais aceitas. Tentam falar do interesse que os outros têm para serem incluídas em igualdade. Quando se expressam, muitas vezes tendem a ser punidas pelo grupo ou desqualificadas e, assim, tendem a ficar mais quietas. Além disso, são mais inocentes em perceber duplo sentido nas conversas e sinais sutis da comunicação social, o que leva a mais riscos, como abusos em relacionamentos.

As meninas também têm menos comportamentos de agitação, menos estereotipias, são mais quietas, se expõem menos. Quietude e o que parece com “timidez” são mais aceitos em meninas e isso faz com que os pais e professores busquem menos ajuda do que com meninos. É comum mães de crianças autistas perceberem sintomas em si após o diagnóstico dos filhos.

É necessário falarmos mais sobre esse tema. Precisamos olhar para esses sintomas, que muitas vezes são confundidos com “jeito” de ser, ou outros transtornos. Quando as meninas têm manias e rituais, por exemplo, recebem o diagnóstico de TOC – Transtorno obsessivo compulsivo. Quando apresentam sintomas de restrição alimentar, que também é muito comum no autismo, recebem diagnóstico de anorexia. Quando apresentam desregulação emocional ou sensorial, muitas vezes se interpreta como “crises histéricas de meninas”. Geralmente, descobrem o autismo quando buscam ajuda para esses sintomas, ou para ansiedade e depressão.

Precisamos olhar e cuidar melhor dessa questão. Guardar e disfarçar suas necessidades pode trazer outros efeitos colaterais graves. As meninas autistas podem contribuir enormemente para a sociedade com seus cérebros neurodiversos. Precisamos de pessoas que pensem diferente, nesse mundo tão comum!

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