Por Laura Krell | 10 de outubro de 2025

A obesidade infantil é um dos maiores desafios de saúde pública do século 21 — e no cenário brasileiro não é diferente. De acordo com estimativas da Federação Mundial da Obesidade, mais de 20 milhões de crianças e adolescentes estarão acima do peso no país até 2035.

Naturalmente, o número acende um alerta para especialistas e reforça a importância de olhar para o tema com mais atenção e empatia.

Durante o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM 2025), a endocrinologista Dra. Cristiane Kochi, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP), apresentou novos dados sobre o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes.

Confira abaixo os pontos de destaque.

Mudança de hábitos

Segundo a especialista, o tratamento clássico da obesidade infantil continua sendo a mudança de estilo de vida. Isso inclui a alimentação equilibrada e a prática de atividades físicas. Esses hábitos, além de ajudarem na perda de peso, são importantes para o bem-estar e o crescimento saudável.

Mas em casos de obesidade grave, o sucesso dessa abordagem é bem limitado. A taxa de resposta não passa de 15% mesmo em grandes centros de referência. Por isso, estudam-se as possibilidades para criar novas linhas de tratamento.

Medicamentos em adolescentes

A liraglutida e a semaglutida são promissoras para o tratamento da obesidade infantil. Foto: Freepik

Em 2023, a Academia Americana de Pediatria passou a recomendar o uso de medicamentos em adolescentes a partir dos 12 anos. A condição é não apresentar melhora depois de seis meses de tratamento convencional.

No Brasil, a ANVISA já aprovou dois medicamentos para essa faixa etária: a liraglutida e a semaglutida. Os dois são derivados do GLP-1.

Resultados e segurança

Estudos clínicos mostraram que a liraglutida (3mg/dia) reduziu em 5% o índice de massa corporal (IMC) em 43% dos adolescentes, contra 18,7% no grupo placebo.

Já a semaglutida (2,4mg/semana) teve resultados ainda mais expressivos. A redução média do IMC foi de 16%, com cerca de 45% dos participantes deixando o diagnóstico de obesidade.

Os efeitos adversos mais comuns nos dois casos foram náusea e desconforto abdominal.

Outras opções em estudo

Nos Estados Unidos, também houve a aprovação de outros medicamentos, como a combinação fentermina/topiramato e a setmelanotida, indicada só para casos raros de obesidade de origem genética.

Porém, os especialistas reforçam que prescrever esses medicamentos é algo que exige cuidado e acompanhamento médico rigoroso, porque podem causar efeitos colaterais.

Tratamento individualizado

“A obesidade é uma doença crônica, complexa e recidivante. O tratamento deve ser sempre individualizado”, explica a Dra. Kochi. Segundo ela, os medicamentos podem ajudar em alguns casos, mas nunca substituem a reeducação alimentar, o movimento e o apoio emocional.

Por isso, é essencial promover hábitos saudáveis desde a infância e combater o estigma em torno da obesidade. Dessa forma, crianças e adolescentes conseguem receber o acolhimento e o cuidado de que precisam.

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