Por Dr. Wimer Bottura Junior | 13 de dezembro de 2024

Acredito que a maioria dos nossos problemas é fruto de erros de  comunicação, principalmente nas relações entre pais e filhos. As  consequências desses erros de comunicação repercutem nas  escolhas que as pessoas fazem em suas vidas e nas suas relações. 

Tenho abordado, nesta coluna, os aspectos da comunicação  responsável pelo surgimento desses problemas. Entendo que devemos  nos aprofundar na compreensão do fenômeno da comunicação, e, para isso, recorro à metáfora dos jogos de tênis e frescobol, tema de um livro lançado recentemente pela Universidade de Pais

Na comunicação tipo tênis, que ainda é predominante, a preocupação  das pessoas está em se defender, e, para isso, precisam atacar. A  pergunta inicial em um diálogo pode ser uma tentativa de “ace” — “responda se conseguir” — ou perguntas que deixam o interlocutor  encurralado, de forma que, ao responder, ele se torne vulnerável a uma  réplica. Busca-se, assim, a sensação de ter razão. Em síntese, na  comunicação tipo tênis, o adversário é o interlocutor, embora o diálogo  exista para resolver um problema, passar o tempo ou compartilhar  bons momentos. Quando os pais adotam esse tipo de comunicação,  eles pensam que a criança é um adulto em miniatura.  

O diálogo tipo tênis gera competição, sensação de êxito para um e de  fracasso para o outro, ressentimento e obstrui a comunicação. A  sensação de fracasso fica com a criança, que, ressentida, pode decidir:  “um dia eu vou sacar, você não perde por esperar”. 

Existe um problema potencial, um perigo do qual os pais querem  proteger a criança. No entanto, a forma de falar faz parecer que o  problema é o “ace”, e não o perigo real. 

Já na comunicação tipo frescobol, o que interessa é o diálogo, de tal  forma que o adversário é o problema a ser resolvido, e não a pessoa. Se  a criança não quer dormir ou comer, o problema é o sono ou a fome — questões que estão com ela, mas que não a definem. No diálogo tipo  tênis, o problema passa a ser a criança, e o jogo é contra ela. No tipo  frescobol, os dois jogam contra o problema, e o que interessa é resolvê-lo. Acredito que os pais, mesmo quando erram, o fazem com a intenção  de ajudar ou proteger a criança contra o que acreditam ser perigoso ou  danoso para ela.  

Por isso, insistir em aprimorar a capacidade de se comunicar é  fundamental, e a metáfora do frescobol ilustra de forma simples como  deve ser o diálogo em todas as relações. Devemos fazer perguntas que  favoreçam a compreensão da criança sobre o que está sendo dito, estar  dispostos a corrigir respostas que venham “com defeito”, fazer  perguntas que gerem desafios de acordo com a capacidade de  compreensão da criança em seu momento de desenvolvimento, e  acolher as incertezas. Inicialmente, podem ser frases curtas, que  gradualmente se tornarão mais longas. 

A experiência que venho tendo ao falar sobre essa metáfora  impressiona pela receptividade e pela forma como as pessoas relatam as mudanças em suas relações, tanto com os filhos quanto no  ambiente de trabalho. Afinal, o que importa é ser feliz, mesmo que não  tenhamos razão.